Quadro de Léger estava à venda em casa de leilões por US$ 1 milhão quando foi apreendido pela po
A polícia britânica apreendeu em Londres uma tela do pintor francês Fernand Léger (1884-1955) que pertenceu à coleção do ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira. Ela estava à venda numa casa de leilões por um valor equivalente a cerca de US$ 1 milhão (R$ 1,73 milhão), segundo a Folha apurou.
Após a apreensão, mantida em sigilo, foi constatado que o quadro havia passado por outros dois galeristas depois de ter sido vendido por uma empresa controlada por Edemar.
A obra, chamada “Les Papillons” (As Borboletas), havia sido retirada do Brasil pouco antes da quebra do Banco Santos, em novembro de 2004, quando o Banco Central decidiu intervir na instituição.
Edemar havia comprado o quadro em um leilão da Christie’s em maio de 2003. Pagou US$ 679.500 (R$ 1,17 milhão, pela cotação atual do dólar), segundo um registro de sua coleção obtido pela Folha.
O sumiço das dez obras mais caras da coleção de Edemar, entre as quais a tela de Léger, foi revelado pela Folha em maio de 2005. O ex-banqueiro tirou do país as peças mais caras da coleção, avaliadas em cerca de US$ 5 milhões (R$ 8,65 milhão), para evitar que a Justiça seqüestrasse o lote.
Ex-funcionários de Edemar disseram à Folha que ele mantinha obras num depósito na Suíça. Ainda segundo esses profissionais, o ex-banqueiro tinha um despachante que conseguia entrar com obras no Brasil sem passar pela Receita -Edemar negou à Justiça que tenha feito isso.
Em um período de três meses, é a segunda obra ligada a Edemar que é apreendida no exterior. Em novembro, a polícia americana apreendeu um quadro do norte-americano Jean-Michel Basquiat (1960-1988) em Waterbury, Connecticut, na Costa Leste.
Tanto o Basquiat quanto o Léger haviam sido colocados numa lista da Interpol sob a classificação de “alerta vermelho” -o que significa que devem ser apreendidas.
Mesmo com o sumiço de parte da Cid Collection, ficaram no Brasil cerca de 10 mil obras de Edemar, uma miscelânea que incluía de um ladrilho do Titanic a uma escultura romana, de fotos contemporâneas (Cindy Sherman e Andres Serrano) a um painel de US$ 750 mil de Frank Stella.
Disputa pela coleção
O juiz federal Fausto Martin de Sanctis distribuiu as obras para os principais museus de São Paulo. A massa falida do Banco Santos quer reverter a decisão e vender as obras para ressarcir parcialmente aos credores o rombo de R$ 2,5 bilhões deixado pelo banco.
A disputa foi parar no STJ (Superior Tribunal de Justiça). A pauta sobre quem tem direito aos bens está na agenda da próxima segunda-feira. A decisão do STJ engloba a coleção, cujo valor iria de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões, e a casa de Edemar, que consumiu cerca de R$ 150 milhões, segundo documento apreendido pela PF.
O mesmo juiz condenou Edemar a 21 anos de prisão por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro. Ele recorre da decisão.
A ligação de Edemar com as obras ficou evidente quando o então banqueiro contou em 2004 à revista “Isto É? Gente”, num texto intitulado “O Rei das Artes”, que era dono do quadro de Basquiat e de Léger. Havia até uma foto do banqueiro com a tela de Basquiat -foi o ponto de partida da reportagem da Folha de 2005.
Quando a Justiça determinou que a coleção fosse apreendida, faltavam esses dois quadros e outras obras. A mais cara era uma escultura de Henry Moore (1898-1986), chamada “Woman”, pela qual ele pagou US$ 1,475 milhão.
Entre as obras que sumiram pouco antes da intervenção do Banco Central no Banco Santos estão quadros de modernistas históricos, como Joaquim Torres García (1874-1949), de representantes de primeira grandeza da pop arte -Roy Lichtenstein (1923-1997)- e de artistas contemporâneos que já são marcos na história da arte, caso de Anish Kapoor e Cy Twombly.
Fonte: Folha de S. Paulo