No meio da discussão sobre a gestão dos ativos do Banco Santos ainda há um entrave que envolve a recuperação de ativos no exterior. Um grupo de credores alega ter rastreado fora do Brasil um total de US$ 1,3 bilhão em ativos da família de Edemar Cid Ferreira, principal controlador da instituição. A administração judicial e o falido, porém, não reconhecem a ação.
A pedido de seis credores, a soma foi encontrada pela Interfor, empresa de investigação americana presidida por Juval Aviv, ex¬agente do serviço secreto do governo de Israel. O processo, conduzido em 2007, resultou em relatório detalhando rastros de movimentações financeiras supostamente feitas em favor da família Cid Ferreira. Esses ativos teriam saído dos Estados Unidos para contas nas Ilhas Cayman, em Liechtenstein, Luxemburgo e Gibraltar.
No relatório também consta que Edemar Cid Ferreira e seu filho Rodrigo Ferreira eram donos de empresas em Nova York, ligadas ao Banco Santos.
O documento foi mantido em segredo de justiça desde 2008 a pedido dos credores, mas um despacho do juiz Paulo Furtado de Oliveira, do início de julho, afirma que era entendimento do administrador judicial e do Ministério Público que o documento se tornasse público.
Procurado, Edemar não quis dar entrevista, mas negou, em nota, a veracidade dos fatos. “São fatos inverídicos, obscuros e provavelmente obtidos de forma criminosa sobre os quais serão tomadas providências judiciais cabíveis, e no momento correto”, afirmou.
O relatório da Interfor também declara que Edemar teria pago cerca de US$ 3 milhões a Vânio Aguiar, administrador da massa, para que ele “atrasasse ou obstruísse” a investigação. O texto, no entanto, diz que não há detalhes sobre essa transação.
O administrador judicial da massa falida, Vânio Aguiar, nega a veracidade do relatório e diz que é favorável que o documento seja público. “Com essa decisão, todos os interessados terão condições de avaliar as pretensões dos credores e o juiz deve pedir que eu me manifeste”, disse.
Aguiar teria feito uma investigação para checar os dados do relatório, que não se mostraram verídicos. Com isso, a administração iniciou um novo processo para levantar ativos no exterior ¬ o que deu origem, por exemplo, à soma de US$ 8 milhões revertida à massa recentemente após um acordo com o Banco Espírito Santo.
Agora, os credores, questionam na Justiça a decisão da administração de não levar adiante as informações do relatório. “Os credores gastaram quase US$ 1 milhão no momento certo e com gente qualificada. Cabe à administração esclarecer o que fez com isso”, diz Luiz Eugênio Muller Filho, advogado que representa um grupo de credores.