Um fundo para o Banco Santos

Falência: Proposta da gestora Cadence é polêmica por incluir Edemar entre os credores  (Cristine Prestes e Vanessa Adachi, de São Paulo)

Os R$ 584,9 milhões existentes hoje no caixa da massa falida do Banco Santos e a existência de processos judiciais de cobrança de R$ 4 bilhões na esfera cível chamaram a atenção de um grupo de ex-executivos de instituições financeiras, que enxergaram uma oportunidade única de fazer dinheiro. Circula entre os credores do banco, que quebrou em 12 de novembro de 2004, uma proposta elaborada por eles de criação de um fundo para receber os recursos já arrecadados pela massa falida mais os créditos a receber. O fundo teria como cotistas todos os credores do banco e, detalhe importante, incluiria também seu ex-controlador, Edemar Cid Ferreira. Esse aspecto é o mais polêmico da proposta, já que o ex-banqueiro responde a um processo penal por crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Pela proposta que vem sendo apresentada aos credores, o fundo contaria com duas classes de credores. A primeira delas – formada por “cotas A” – seria composta por 100% dos credores do banco. Conforme dados consolidados pela massa falida, os credores quirografários (sem privilégio no recebimento) totalizam 1.982 pessoas físicas e empresas, que possuem créditos que, somados, representam 96,99% do total da dívida de R$ 2,79 bilhões do banco. Cada cotista receberia um número de cotas proporcional ao valor nominal de seu crédito. Uma segunda classe de cotista seria formada por um único detentor da chamada “cota C”, Edemar Cid Ferreira. A lógica da proposta é que as “cotas C” seriam pagas apenas se sobrasse dinheiro depois que todos os cotistas A recebessem o que têm direito.

“Esse é o maior ponto de angústia dos credores diante da proposta, porque as pessoas acham que Edemar estaria recebendo um benefício”, admite João Adamo, sócio da Cadence Gestão de Recursos e um dos autores da proposta. Adamo concordou em comentar a proposta ao saber que o Valor havia obtido cópia impressa do documento entregue a credores. Na segunda-feira aconteceu o primeiro encontro dos sócios da Cadence com um grupo credores, cerca de 30 deles, reunidos em Belo Horizonte.

Os bens de Edemar Cid Ferreira que não integram a massa falida, mas hoje estão penhorados pela Justiça, entrariam no fundo. “Ele teria que abrir mão da disputa judicial que trava com a massa falida, esses bens iriam diretamente para a massa e passariam a integrar o patrimônio do fundo”, diz Adamo. Segundo Armando Marracini, outro sócio da Cadence, os bens de Edemar não estariam imediatamente disponíveis para venda. “Primeiro trataríamos de cobrar os devedores do banco que constam do processo, por meio de acordos”, diz. “Mas não estamos prometendo que dê para pagar todo mundo.” Conforme os créditos fossem convertidos em dinheiro em caixa, todos credores da classe A receberiam suas fatias pro-rata.

Os sócios da Cadence admitem ter iniciado contatos com todos os envolvidos. Para que a ideia vá adiante, precisam que os credores lhes deem mandato para agir em seu nome, e isso ainda não aconteceu. “A idea ainda é muito embrionária”, diz Adamo.

 

Fonte: Valor Econômico – 12.11.09